No momento em que o ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, sugere que São Paulo, Mato Grosso do Sul e Minas Gerais solicitem em conjunto o reconhecimento de status livre da febre aftosa sem vacinação - e após o Paraná ter pedido esse reconhecimento na semana passada - os pecuaristas mato-grossenses analisam com cautela a possibilidade de o Estado solicitar sua certificação junto à OIE (Organização Internacional de Epizootias) e chegam a uma conclusão: ainda não é o momento de Mato Grosso fazer este pedido.
Os motivos vão desde a grande extensão territorial do Estado até à longa faixa de fronteiras com a Bolívia, passando pelas divisas com três estados amazônicos. O Estado que detém o maior rebanho bovino de corte do Brasil, mais de 27 milhões de cabeças, está há mais de 14 anos sem registrar focos da doença.
“Realmente, ainda é prematuro para reivindicarmos esta condição [de Estado livre da aftosa sem vacinação]”, pondera o diretor executivo da Associação dos Proprietários Rurais de Mato Grosso (APR/MT), Paulo Resende. “Na minha opinião, este trabalho tem de ser feito de forma muito bem planejada e com cautela”. Segundo ele, é preciso “fazer um estudo meticuloso” antes de Mato Grosso solicitar este status. “Até mesmo no caso de Mato Grosso do Sul entendo que este não seria o momento. São dois estados vulneráveis por fazerem fronteiras extensas com a Bolívia e o Paraguai, países que ainda não possuem uma garantia de 100% da vacinação e controle sanitário do rebanho”.
Resende alerta que Mato Grosso não pode correr este risco agora. “Se alguma coisa acontecer após a certificação, será uma catástrofe para o Estado”. Ele diz que não é fácil ter um controle eficaz sobre a fronteira com a Bolívia, por isso seriam necessárias fortes medidas preventivas para impedir um incidente.
O diretor da Associação dos Criadores de Nelore do Estado (ACN/MT), José João Bernardes, também entende que ainda não é hora de Mato Grosso solicitar o status de livre de aftosa sem a necessidade de vacinar o rebanho.
“Este trabalho tem de passar por um longo planejamento. Temos de avançar mais neste processo e somente após apresentarmos um plano de adoção de medidas sanitárias é que poderemos pleitear a certificação”, frisa Bernardes. Ele aponta que a longa faixa de fronteira seca com a Bolívia como um dos fatores impeditivos. “Precisaríamos de uma grande estrutura, em caso de alguma ocorrência. A verdade é que a certificação implica em mais responsabilidades por parte do Estado e do produtor, por isso precisamos nos preparar mais para este avanço”.
COM VACINAÇÃO - Mato Grosso é considerado área livre da febre aftosa com vacinação desde o dia 24 de maio de 2000. Com isso, o Estado é obrigado a cumprir o calendário de vacinação anual em duas etapas, maio e novembro. Em fevereiro, apenas animais de zero a 12 meses localizados na fronteira com a Bolívia é que devem obrigatoriamente receber a vacina.
No Brasil, 17 estados estão reconhecidos como áreas livres de febre aftosa com vacinação. Santa Catarina continua sendo o único estado brasileiro com reconhecimento de área livre sem vacinação pela OIE.
Para manter a doença longe do rebanho, produtores, entidades e órgãos públicos tiveram de estabelecer um “pacto” pela defesa sanitária animal, definindo metas ousadas de vacinação e controle e estratégias de biosseguridade. Mato Grosso faz divisa com seis estados – Goiás, Mato Grosso do Sul, Rondônia, Pará, Amazonas e Tocantins – e tem fronteira seca de 720 quilômetros com a Bolívia.


