Assim como na safra passada a chegada das chuvas está atrasada em Mato Grosso, represando o ‘start’ do plantio da nova safra de soja e o início efetivo dos trabalhos no campo. A maior parte dos produtores deve aguardar as primeiras precipitações para começar a semeadura da cultura. Até quem cultiva algodão em segunda safra e que por isso planta ‘no pó’, acreditando na chegada das chuvas, está reticente com o momento e adiando o acionamento das plantadeiras.

Dados do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea) mostram que em 22 de setembro do ano passado, o plantio havia sido iniciado em todas as regiões do Estado. Dos mais de 9,77 milhões de hectares estimados àquele ciclo, 0,28% estava semeado até a data. Nesse ano, não há ainda registros oficiais. Há reportes de cultivo no médio norte, em área com irrigação, pivô.

Como explicam os analistas do Imea, a cautela se justifica em projeções climáticas e na realidade pluviométrica do Estado. “O acumulado de chuva em 2020 foi menor que o dos últimos anos, o que deixou o solo com pouquíssima umidade até aqui. Porém, vem chuva por aí sim! As previsões para essa semana indicam volumes acima de 12 milímetros (mm) na média do Estado (TempoCampo), o que, se confirmado, ficará próximo do registrado em setembro do ano passado. Para quem não lembra, em decorrência dos menores volumes em igual momento de 2019, a semeadura da temporada 2019/20 iniciou com atraso, porém, não é somente isso que define o sucesso da safra, tanto é que neste período os produtores colheram uma produção recorde do grão, inaugurando um novo referencial histórico de 35,40 milhões de toneladas”.

Enquanto o ritmo no campo não embala, o do mercado segue acelerado. A nova safra chega à metade de setembro com cerca de 56% de sua estimativa de produção já comercializadas de forma antecipada pelos produtores mato-grossenses. No médio norte – onde se concentra a maior produção do grão no Estado – 60% estão negociados. A explicação para esse movimento frenético da demanda está no próprio mercado, com baixas significativas de estoques – inclusive no mundo – o que tem acelerado a busca pelo grão e elevado as médias das cotações a níveis históricos à série estadual. O Indicador Imea/MT fechou mais uma semana com as cotações em alta (1,45%). Um dos motivos foi a grande procura pela soja no Estado, que ficou cotada a R$ 129,82/sc na média semanal.

Numa comparação anual, entre a média de preços até o dia 20 desse mês em relação ao mesmo momento do ano passado, há incremento de 80,43% sobre a cotação da saca, que passou de R$ 71,95 para R$ 129,82.

A valorização da saca, que também se sustenta no movimento altista do dólar, reflete previsões de safra futura, e principalmente, na conjuntura atual. A nova safra começa com 98,59% da produção de 2020/19 já comercializadas e com mais de 21 milhões de toneladas exportadas até agosto.

Para este ciclo, o Imea prevê novo recorde de área plantada, passando a casa de 10 milhões de hectares, podendo se estabelecer em 10,20 milhões, o que se confirmado trará um incremento anual de 2,23%. De maneira inicial, a projeção de produção é de queda de 2,79%, com a oferta de 35,18 milhões de toneladas.

ATENÇÃO - O Imea modificou a forma de divulgação dos dados de custo de produção a partir desse mês. Com isso, a nova estimativa referente à safra 2020/21 demonstrou uma alta no Custo Operacional Efetivo (COE) de 0,50% ante ao último mês. Os defensivos tiveram aumento de 0,81% e os fertilizantes e corretivos, de 0,35%. “Este aumento nos insumos está atrelado à valorização do dólar no período, que fechou o mês de agosto com média de R$ 5,46/U$S, imprimindo alta de 3,43% em relação ao mês anterior. Além disso, com a valorização da saca de soja no Estado, a expectativa dos custos com arrendamento também ficou mais cara para os produtores de Mato Grosso (2,08%)”, explicam os analistas.

Ainda segundo eles, a atual projeção é praticamente mostra uma cifra fiel ao momento, já que como faltam poucos insumos para serem adquiridos pelo agricultor, “o custo de produção está próximo da consolidação, indicando um ponto de equilíbrio para o sojicultor de R$ 55,08/SC (COE/produtividade esperada), o equivalente a R$ 1,60/SC acima ao da safra anterior”. O ponto de equilíbrio é o valor mínimo de venda da soja necessário para cobrir os custos de produção.