Os preços do milho brasileiro ultrapassaram os R$ 50 por saca de 60 quilos
pela primeira vez desde 2016, mesmo com a colheita recorde registrada no ano
passado, afirmou Victor Ikeda, analista sênior de grãos e sementes oleaginosas
no Rabobank, nesta terça-feira (11).
A produção brasileira de milho ultrapassou as 100 milhões de toneladas em
2019, estabelecendo um novo recorde, mas a forte demanda de frigoríficos locais,
exportações e produtores de etanol do milho esgotaram os estoques, afirmou o
analista em um podcast.
Os estoques de passagem de milho, ao final de janeiro, foram de cerca de 11
milhões de toneladas, o número mais baixo desde 2017, quando uma seca severa
pressionou as reservas brasileiras do cereal.
"A curva dos futuros de milho está invertida", disse Ikeda, lembrando que
isso ocorre quando os contratos que vencem primeiro ficam com preços mais altos
do que os de longo prazo.
Ikeda disse que os contratos de milho de março de 2020 estão em R$ 50 por
saca, comparados a R$ 42-43 por saca para contratos de julho e setembro de 2020,
que são normalmente utilizados para estabelecer os preços para a chamada segunda
safra de milho do Brasil.
A demanda doméstica pelo milho continuará forte, com os preços subido acima
de R$ 40 por saca de 60 quilos após a colheita da segunda safra, de acordo com
as projeções do Rabobank.
A seca no no Rio Grande do Sul, maior produtor de milho de primeira safra,
poderia destruir 30% da colheita gaúcha e ajudar a sustentar os preços, disse
Ikeda, citando projeções oficiais.
Outro impulso é a probabilidade de produtores brasileiros plantarem a segunda
safra após a janela ideal por conta de atrasos no plantio de soja, o que
potencialmente reduziria os rendimentos, afirmou Ikeda.
Não há sinais claros de que os preços irão cair no futuro próximo, já que os
frigoríficos brasileiros estão comprando cada vez mais milho para ração, e as
empresas de combustíveis devem aumentar a produção de etanol do milho no país,
disse.
De acordo com projeções do Rabobank, a produção de etanol do milho no Brasil
deve crescer para 1 bilhão de litros em 2020, ante 2019, exigindo um adicional
de 2,5 milhões de toneladas de milho nesta temporada.
O consumo doméstico crescerá para 68 milhões de toneladas, versus 64 milhões de toneladas no ano passado, disse Ikeda.