Ao término de sua vigência o vazio sanitário para a cultura da soja em Mato Grosso não significa, de imediato, o início da semeadura da leguminosa, por conta da prolongada estiagem. Esse cenário não deverá prejudicar a produção e produtividade da safra de verão. A meteorologia prevê chuvas com intensidade somente no primeiro dia da Primavera, em 23 deste mês de setembro.

Iniciado em 15 de junho e com validade por 90 dias, o vazio sanitário vigorou até o domingo, 15, conforme estabelece a Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico e o Instituto de Defesa Agropecuária de Mato Grosso (Indea). Desde ontem, o cultivo está liberado, mas provavelmente nenhum produtor rural semeou soja, pois Mato Grosso enfrenta um longo período de estiagem que há quatro meses afugentou a chuva em volume expressivo nos 141 municípios mato-grossenses.

Início da temporada das chuvas à parte há otimismo por parte do Instituto Mato-grossense de Economia Agrícola (Imea) sobre área cultivada, produção e produtividade da soja. Estimativa do Imea aponta que a área que será cultivada alcançará 9,7 milhões/ha ou 0,60% a mais do que na safra anterior, de 9,6 milhões/ha. A produtividade também sobe no comparativo com 2017/18: passa de 56 sacas/ha para 56,28 sacas/ha. A expectativa é que o volume produzido seja de 32,8 milhões/t – maior alcançado pelos produtores rurais mato-grossenses, que em 2018/19 colheram 32,5 milhões/t. Os números do Imea são parecidos com os do IBGE e da Conab.

ESTIAGEM – Todos os municípios ressentem a falta da chuva. Há incêndios florestais em todas as regiões, a média da temperatura está 5º acima do tradicional nessa época do ano e a umidade relativa do ar está aquém do recomendável. Mantida a previsão meteorológica, Mato Grosso somente terá chuva intensa daqui a seis dias.

Mesmo com a estiagem que em algumas regiões começou em maio e em outras no mês de abril, o produtor rural se prepara para a semeadura. Segundo sindicatos rurais, há registros de chuvas isoladas, que não motivarão o plantio nesta semana. No bolsão formado por Colíder, Nova Guarita, Nova Santa Helena, Marcelândia e Itaúba choveu com intensidade no último domingo.

A última chuva forte em Água Boa – importante polo agrícola no Vale do Araguaia – aconteceu em 5 de julho e alcançou 44 mm; na vizinha Canarana, há registros de chuvas fracas e isoladas. Uma chuva forte em Peixoto de Azevedo e na vizinhança paraense, na semana passada, apagou incêndios florestais. Juara é uma das áreas mais atingidas pela estiagem, mas o município não tem perfil agrícola – seu forte é a pecuária; a última chuva significativa no município foi em 12 de abril, com 49,7 mm. No município de Paranaíta choveu com intensidade no começo deste mês. Em Alta Floresta a estiagem se estende desde maio e no período houve chuvas moderadas e isoladas.

Em todas as regiões há registros de chuvas isoladas. Porém, o cultivo da soja somente deverá começar após as anunciadas chuvas na próxima semana. Com isso, o ciclo do cultivo da lavoura começará mais tarde, mas dentro de uma margem de variação que já ocorreu sem comprometer o calendário agrícola e o desempenho das lavouras.

Analistas que acompanham a agricultura mato-grossense acreditam que o retardamento em alguns dias do plantio da safra de verão será algo ‘natural’ e não deverá impedir que no campo Mato Grosso continue com seu interminável balé sobre pneus semeando as leguminosas, cereais, fibras e plumas que respondem por boa parte da política de segurança alimentar mundial.