"O maior produtor de grãos do país não vai bater seu próprio recorde de produtividade de soja neste ano. A vilã da vez é a estiagem que atingiu as regiões produtoras do estado no final do ano passado e reduziu a produção nos primeiros talhões plantados, que começaram a ser colhidos neste mês. A boa notícia é que a redução da projeção da safra 2018/2019 não terá impacto significativo, já que com o aumento da área plantada e a ajuda de São Pedro a produção deve se manter acima da média histórica.Assine a Gazeta do povo e tenha acesso ilimitado as análises e tendências do mercado do Agronegócio.

De acordo com Cleiton Gauer, gestor técnico do Instituto Matogrossense de Economia Agropecuária (IMEA), ainda não dá para mensurar o real impacto causado pela falta de chuvas e luminosidade na produção de grãos do estado. Nos primeiros talhões colhidos, a queda foi de 1,5% a 2%. “No entanto, a gente tem uma curva normal de baixa produtividade daquelas cultivares de ciclo mais curto que tiveram o período de enchimento de grão lá em dezembro e que sofrem um pouco mais. As áreas que têm um desenvolvimento posterior, a partir do final de dezembro e mesmo durante janeiro desse ano, e que vão ser colhidas agora em fevereiro, talvez não sofram um impacto tão grande”, afirma.

Mesmo com a estiagem, a média da produtividade dos primeiros talhões nesse ano está em torno de 56 sacas por hectare, muito próxima da normalidade, de 56,2 sacas por hectare na primeira semana de colheita, mas ligeiramente menor do que em anos anteriores. “Na expectativa do produtor, ele esperava colher mais. Claro que essa é a média do estado. Tem produtores que colhem 65 sacas/ha, outros ficam muito próximos da média. Depende muito da estrutura de produção, da tecnificação e do tipo de solo”, explica Gauer.

No geral, a perspectiva é de uma produção menor que a do ano passado, ficando na casa de 32,4 a 32,5 milhões de toneladas. Houve um aumento de 1,64% da área plantada em relação à safra anterior, o que amorteceu o impacto da seca. Atualmente são 9,6 milhões de hectares cultivados no Mato Grosso.
Ano passado, o estado produziu 57,3 sacas por hectare, em média. A previsão para a safra 2018/2019 é produzir 56,2 sacas/ha. Mas os números podem mudar, pois a colheita ainda está no início. Só 12% da soja foi colhida até agora. “A colheita está mais adiantada do que no ano passado, mas ainda restam quase 90% para serem colhidos, o que pode afetar a média do estado”, diz o gestor do IMEA.

Variação

Emerson Zancanaro, da Fazenda Japuira, em Nova Mutum, conta que a produção inicial de soja neste ano está 10% abaixo da média na região. O produtor, que também é presidente do Sindicato Rural de Nova Mutum, diz que os talhões colhidos mais recentemente estão com uma produtividade normal. “Temos relatos de colheita de 65 sacas por hectare, mas também de 35 sacas/ha, porque os terrenos aqui são mistos. Nas áreas mais arenosas, o pessoal está tendo mais problema. As lavouras de ciclo tardio, que agora estão em pleno enchimento de grãos, podem ser afetadas por esse calor. Mas acho que a safra, no geral, não vai ter muito problema com a estiagem. Mas a hipótese de termos um novo recorde de produção, maior do que o do ano passado, é vaga”, afirma.

Apesar disso, segundo ele, qualquer quebra de safra, mesmo que muito pequena, impacta para os produtores porque o custo de produção é elevado. Além disso, mais da metade da soja ainda não está comercializada. “Temos um cenário em que a cotação do dólar está baixa no Brasil por causa do novo governo e também tem a guerra comercial entre EUA e China, que está impactando os preços dos prêmios dos produtores e impulsionando para cima o valor do bushel.” No caso do Mato Grosso, ainda há a ameaça de uma sobretaxação por parte do governo estadual do Fetab, imposto que incide sobre a cadeia produtiva de grãos, o que poderá, de acordo com Zancanaro, pressionar ainda mais o produtor, especialmente o pequeno.

Para o produtor Antonio César Brolio, que possui uma área de 2.850 ha de soja em Campo Novo do Parecis, região Centro-Oeste do Mato Grosso, as primeiras colheitas também foram ruins em comparação com o ano passado. Na safra 2017/2018, ele colheu 72 sacas/ha nas cultivares de ciclo curto. Neste ano, o rendimento caiu para 53 sacas/ha. “Foram mais de 20 dias sem luminosidade em novembro do ano passado e outros 12 dias de muito calor e sem chuvas em dezembro. Isso fez com que o grão não carregasse direito e as vagens não enchessem”, explica.