"O início tinha sido perfeito, com chuvas e intervalos de sol regulares. Mas o calor intenso e a seca de dezembro impactaram forte na produtividade de soja do Oeste do Paraná, um dos principais polos da produção brasileira, provocando perdas de quase 40%.Assine a Gazeta do povo e tenha acesso ilimitado as análises e tendências do mercado do Agronegócio.

Nesta quinta-feira (24), o Departamento de Economia Rural da Secretaria da Agricultura confirmou aquilo que o mercado já tinha sinalizado: depois de sete boas safras consecutivas no verão, o Paraná terá uma quebra de 15% na produção de soja. Em termos de produtividade, a redução é de 12%. Com isso, o estado deve perder para o Rio Grande do Sul o segundo lugar no ranking do país, liderado pelo Mato Grosso. Neste ciclo, os gaúchos devem colher 18,3 milhões de toneladas, 1,6 milhão a mais do que o Paraná. Se não houver frustrações climáticas, o Mato Grosso espera colher 32,4 milhões de toneladas.

A estimativa inicial do Deral era de que o Paraná alcançaria uma colheita de 19,5 milhões de toneladas, reduzida agora para 16,9 milhões. Levando-se em conta os preços de mercado, isso significa que o estado deixará de gerar um valor bruto de R$ 3 bilhões.

Nos últimos dois anos os agricultores paranaenses praticamente não tinham feito colheita de soja em janeiro. Desta vez, o clima quente e seco acelerou o desenvolvimento e o amadurecimento das plantas. Em Toledo, onde foram cultivados 481 mil hectares, mais de 70% da safra já foi colhida, com rendimento de 2325 kg por hectare, muito abaixo do intervalo de produção esperado, entre 3420 e 3783 kg. A quebra projetada é de 39%. As perdas devem ficar acima de 20% em Umuarama (25%), Campo Mourão (23%), Francisco Beltrão (22%) e Paranavaí (22%).

“A região de Toledo, perto do lago de Itaipu, foi bastante castigada. Já temos um número bem próximo da realidade, do que será o volume final de produção. Para aquela região esperava-se um mínimo de 1,7 milhão de toneladas, mas a colheita deve ficar em torno de 1,1 milhão”, diz Edmar Gervasio, técnico do Deral.
A época de plantio e as condições topográficas no Paraná, no entanto, são bastante heterogêneas e ajudaram a evitar perdas generalizadas. Para Ponta Grossa, por exemplo, mantém-se a previsão de produtividade de 3600 kg por hectare, ou seja, dentro da margem projetada entre 3550 e 3900.

Em relação ao milho de verão, cultivado mais ao sul do estado, o prejuízo pelo clima foi mínimo quando comparado à soja. A perda estimada até o momento é de 5%, o que deve resultar numa produção de 3,1 milhões de toneladas, contra 3,3 milhões projetadas inicialmente. A principal safra de milho no Paraná é a de inverno, quando tradicionalmente são colhidas mais de 13 milhões de toneladas.

Mercado

A confirmação dos prejuízos pelo clima no Paraná não tem força para a mexer de forma mais significativa no mercado da commodity. Segundo o consultor da agência Safras & Mercado, Luiz Fernando Gutierrez, o encolhimento da safra brasileira de soja em cerca de 6,5 milhões de toneladas já era esperado.

O que equilibra a balança é a recuperação da safra argentina, que no ano passado teve quebra de 20 milhões de toneladas pela estiagem. “Na América do Sul, em relação ao ano passado, devemos ter uma safra ainda maior. A soma dá um saldo positivo para esta temporada. O cenário das cotações em Chicago só muda se houver quebra no Brasil acima de 10 milhões de toneladas e também perdas na Argentina. As cotações hoje estão centralizadas na guerra comercial (entre EUA e China)”, diz Gutierrez.

Para Ana Luiza Lodi, analista da INTL FC Stone, os fatores climáticos serão importantes nas próximas semanas. “O Paraná está saindo da fase climática mais crítica. Mas o Brasil como um todo tem muitas lavouras que são plantadas mais tarde, como no Matopiba. Na Argentina, o pessoal também está de olho no clima.

Ou seja, o mercado olha para o Brasil pelo lado da seca e para a Argentina pelo excesso de chuva”, diz. Quanto às cotações da oleaginosa, no entanto, o fator preponderante continua a ser a disputa comercial entre Estados Unidos e China. “As cotações estão olhando muito para a guerra comercial. Os Estados Unidos têm perspectiva de estoques muito altos e a China faz esforços para diminuir sua importação de soja como um todo. Mas se os números da safra sul-americana continuarem piorando, pode haver impacto nos preços, sim”.